Cazuza - só as mães são felizes - Regina Echeverria
Foram 20 horas de gravações e incontáveis caixas de lenço. O encontro de Regina Echeverria e Lucinha Araújo não se deu por acaso. Regina testemunhou o início da carreira de Cazuza, é também mãe de um único filho e tem a vida marcada pela assassina Aids. Viúva do jornalista Hamilton Almeida Filho, morto em 1993, em consequência do mesmo vírus que levou Cazuza, ela se solidarizou com a dor de uma mãe apaixonada. Por tantas "coincidências", colocou não só seus ouvidos, cabeça e mãos a serviço de Lucinha. Pôs também seu coração. Com a experiência conquistada ao longo de uma carreira que começou no O Estado de São Paulo, em 1972, e que passou pelo Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ, Abril Video, Placar, Folha de São Paulo, Ícaro e, agora, em Caras, tentou manter-se isenta dos fatos. Mas não conseguiu. Foi arrebatada pela genialidade de Cazuza e pela precisa memória amorosa de sua mãe. Toda a arrecadação de direitos autorais do livro é doada a Sociedade Viva Cazuza. E assim, juntas, elas fazem coro ao biografado: o tempo não pára!
"Todo humano é santo e pode amar, sim!" O verso de Cazuza sintetiza para mim legiões de Freuds, Barthes, Foucaults e companhias ilimitadas. Um retrato fiel deste final de século ansioso por sobreviver a mais um milênio. Sou suspeito. A primeira vez que li as provas de "Só as mães são felizes", senti que as confissões de Lucinha Araújo, essa guerrilheira da paz e de todas as paixões, me fuzilaram. Transcritas pela rock&rollesca escritora e jornalista Regina Echeverria, superam vários murais que começam e acabam em Jack Kerouac e Jackson Pollock e provam que o poeta está vivo. A gente chora, ri, mergulha em paraísos de paroxismos e emoções maravilhosamente irremediáveis.
Ezequiel Neves
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