quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Notícia da semana: "Comer Rezar Amar" estreia nos cinemas

"Comer Rezar Amar" seduz o público feminino com a autenticidade (e o escapismo) de sua heroína. Mas pode dar um sono nos marmanjos...



Depois de consumir umas margaritas a mais em um luau,a riponga Liz Gilbert (Julia Roberts) é despertada em um bangalô em Bali pelo homem dos seus sonhos. Felipe, um tigrão brasileiro que essa mulher desencantada com o amor conhecera de relance na noitada, entra de surpresa no local para lhe oferecer um chamego e um chá antirressaca. Como esse brasileiro é interpretado por um espanhol que atiça as mulheres - Javier Bardem -, não fica dúvida quanto ao alcance da virada na vida sentimental de Liz. A heroína de "Comer Rezar Amar" (Eat Pray Love, Estados Unidos, 2010), que estreia nesta sexta-feira, é uma trintona que se insurge contra o que há de anestesiante em sua existência (ainda que vá buscar o antídoto em atividade ainda mais anestesiantes, como a meditação). Ela se divorcia do primeiro marido por não se conformar com o relacionamento medíocre. Assim como no best-seller autobiográfico da Elizabeth Gilbert de carne e osso, que totaliza 8,5 milhões de exemplares vendidos no mundo, a personagem empreende aquilo que o jargão da autoajuda chamaria de "jornada de autoconhecimento", visitando três países. Na Itália, ela redescobre o prazer de viver no primeiro verbo do título: entope-se tão loucamente de espaguete e pizza que já não caberá nas suas calças. Na Índia, aplacará a desilusão com a meditação - ou seja, rezando. Com o namorado brasileiro na ilha indonésia, ela finalmente conjugará o terceiro verbo em meio a arrozais deslumbrantes e praias de água transparente. O filme, como o livro, é um franco elogio ao escapismo.

Em "Comer Rezar Amar", o diretor e roteirista Ryan Murphy não exercita a ironia que marca as séries de TV que lhe deram fama, como a musical "Glee". Mas ele tem o mérito de conseguir transpor para a tela o humor do original - elementos que, afinal, conferem algum charme ao livro de Liz Gilbert. Tome-se a entrega da protagonista à espiritualidade. Embora Liz extraia algo transformador dessa imersão, em momento algum deixa de contrapor quanto há de patético na empreitada zen. Na Índia, ela mal consegue meditar de tanto ser picada por mosquitos. O país que se vê em "Comer Rezar Amar", aliás, é sujo e caótico. Está mais para o registro realista do filme "Quem quer ser um milionário?" do que para o novelão de Glória Perez.
Julia Roberts empolgou-se com o papel (e, de resto, não o compromete) por ser fã da obra de Liz Gilert. Para a ala feminina que cerra fileiras com ela, o filme não será uma decepção. "Comer Rezar Amar" transmite autenticidade em seu esforço de espelhar certas angústias da mulher moderna. Para o público masculino. no entanto, resta não dar muita bandeira no acréscimo de um quarto verbo ao título: "dormir".



Por Marcelo Marthe
Revista Veja - 29/09/2010

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