sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Grandes obras: A Casa das Sete Mulheres


A  Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha (1835-1845) - a mais longa guerra civil do continente -, foi uma luta dos latifundiários rio-grandenses contra o Império Brasileiro. As complexas razões do levante estão nos livros de História. O que não está nos livros de História sobre essa guerra brasileira está nesse livro de Letícia Wierzchowski. Porque "A Casa das Sete Mulheres" é um exercício totalizador sobre a violência da guerra - de qualquer guerra - e sua influência maléfica sobre o destino de homens e de mulheres.


O líder do movimento, general Bento Gonçalves da Silva, isolou as mulheres de sua família em uma estância afastada das áreas em conflito, com o propósito de protegê-las. A guerra que se esperava curta começou a se prolongar. E a vida daquelas sete mulheres confinadas na solidão do pampa começou a se transformar...


Somente um talento literário instintivo e visceral poderia conduzir essa narrativa claustrofóbica e íntima com o sopro épico que varre as páginas do livro. As mulheres daquela casa viviam naturalmente na expectativa das notícias da guerra, que demoravam e eram lentas como as estações que se sucediam. Cartas, recados, bilhetes escritos às pressas trazidos por solitários mensageiros com meses de atraso não bastavam para redimir da solidão. A solidão sufoca, enlouquece. As mulheres adoecem de solidão. As mulheres rezam. As mulheres esperam.


Para contar essa história, Letícia transpõe todas as fronteiras. História e ficção, realidade e fantasia, o natural e o sobrenatural se interpenetram no cotidiano das sete mulheres, cada dia mais violento, sufocante e imutável. Para contar essa história, Letícia assume a grandeza dos acontecimentos e os transforma em literatura fundadora, edificando um livro sem igual no panorama da literatura brasileira. O leitor sairá desta experiência transfigurado, tocado pela dor e pela verdade que gemem nas páginas e pela sutil beleza que a cada momento nos desconcerta.

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