Antes de publicar "O Quinze" (1930), Rachel de Queiroz já escrevia crônicas e poemas para jornais cearenses.
Nunca, no entanto, se reconheceu poeta e renegou os versos até o fim da vida.
Este período será resgatado agora com "Mandacaru" e "Serenata", ambos com lançamento previsto para 17/11.
"Mandacaru" data de 1928. Tinha até mesmo um prefácio escrito por Rachel.
A autora, no entanto, desistiu de editá-lo e confiou os originais à amiga Alba Frota.
Frota morreu em 1967, num acidente aéreo. O material conservado por ela foi doado ao Instituto Moreira Salles (IMS) em 2006 e compõe o Fundo Rachel de Queiroz, onde os poemas foram descobertos.
Todos os dez poemas de "Mandacaru" são acompanhados de fac-símiles dos manuscritos dos versos.
A edição foi organizada por Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS.
"Rachel sempre foi muito crítica e madura. Sabia que não tinha vocação para a poesia", diz Bezerra.
Ela explica, no entanto, que o valor de "Mandacaru" não é meramente documental. "Os poemas já trazem temas que ela desenvolveria nos romances, como a seca e o êxodo rural. Sinto que, nos versos, ela tateava um estilo que encontraria expressão plena em 'O Quinze'."
Já a cópia dos poemas de "Serenata" (1925-30) foi descoberta pelo bibliófilo José Augusto Bezerra, que mantém o Memorial Rachel de Queiroz em Fortaleza.
Ele cedeu o material para a editora Armazém da Cultura, que agora edita o livro.
A organização foi feita pela escritora Ana Miranda.
"São poemas líricos, de alguém que está descobrindo o mundo. Rachel já estabelece, ali, a sua identidade pessoal, a sua ideologia literária", diz.
por Marco Rodrigo Almeida
Folha de São Paulo - 30/11/2010
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